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sexta-feira, 4 de março de 2011

... da menina que se apaixonou por um traficante



Apaixonada, Paula* se envolveu com o mundo de tráfico aos 14 anos,foi presa em flagrante e assumiu toda a culpa sozinha,achando que o seu namorado a tiraria da prisão.

Aos 14 anos,Paula levava uma vida tranquila. Morava com sua mãe,atendente de telemarketing com o pai, ajudante de pedreiro,e três irmãos no jardim Brasil,bairro de classe média baixa em São Paulo. Na escola, era estudiosa,participativa e gostava de fazer amizades. Nos fins de semana,jogava futebol e frequentava uma igreja evangélica com a avó.
Foi justamente em uma quermesse da igreja do seu bairro, conversando com as amigas, que ela conheceu Ricardo* - um garoto de 19 anos, simpático e bonito, que disse que queria conhecê-la melhor. No meio da conversa, ele conta que era dono de uma boca de fumo em um bairro da Zona Norte da cidade." A atração foi mais forte que o medo. Fiquei encantada com o seu jeito carinhoso,sua maneira de vestir...Acabei me envolvendo,mesmo sabendo que ele era traficante. " O único problema que ela via era como esconder aquela história da mãe. " Como o tio dele tinha uma oficina de carro, ele sempre chegava com a roupa suja de graxa para não levantar suspeita ",conta. Não deu muito certo. Desconfiada com tantos telefonemas secretos,gírias e roupa de grifes caras,a mãe não aprovava o namoro da filha. " Ela me perguntava como um trabalhador comum conseguia tanto dinheiro" , lembra.
Mas Paula estava completamente apaixonada. " Ele me fazia muitas juras de amor ",diz. Foi deixando a escola de lado e começou a mentir para os país. Passava semanas viajando com ele para outros estados e dizia para a mãe que estava em uma praia de Santos. " Ela não deixava, mas eu dizia que ia mesmo assim." Passou a fazer tudo o que Ricardo mandava. '' Ele falava para eu não ir mais a igreja e abandonar a escola, que depois ele me pagaria um colégio bem melhor. E foi o que eu fiz." Quando percebeu,já estava gerenciando uma boca de fumo. Segundo ela, o rapaz comprava a droga e outra pessoa contratava menores de idade para vender a mercadoria e arrecadar o dinheiro. " Isso tudo dava muita grana. Um quilo de cocaína rendia mil reais." Ricardo dizia que eles iriam ficar juntos para sempre, a levava ao shopping, á praia,comprava um monte de presentes. Era todo um mundo novo. " Não esqueço o dia que vi a praia Copacabana, o lugar mais lindo que eu já conheci. Passamos três semanas lá. " Entre um carinho e outro, ele tentava convencê-la de que, se por acaso a polícia os flagrasse com a droga, ela deveria assumir a culpa sozinha. '' Ele dizia que eu ficaria por pouco tempo na Fundação Casa (antiga febem).
Para eu não ficar com medo porque ele contrataria um advogado e,enquanto eu estivesse lá,iria me visitar". Paula,que nunca tinha feito nada de errado antes de conhecer o namorado,tinha pavor de pensar nessa idéia. Mas o amor e o dinheiro vindo do mundo do crime falava mais alto. " Você vai ganhando e gastando, sempre querendo mais." Um dia, Ricardo deu a ela uma missão: ir ao Paraná buscar uma grande quantidade de droga e trazer para São Paulo.Sozinha.Com medo de perdê-lo,Paula não pensou duas vezes. A ida foi tranquila - ela disse ao motorista do ônibus que iria buscar a sua avó doente. Mas a volta não. " Um policial entrou no ônibus com a minha ficha completa ", conta. " Perguntou o que eu tinha na bolsa, eu disse que não sabia." Havia 12kg de maconha. Conforme o combinado, Paula assumiu a culpa,livrando Ricardo da prisão. Ficou alguns dias detida no Paraná e foi mandada de volta a São Paulo,onde deveria cumprir a liberdade assistida - teria acompanhamento de um assistente social e seria encaminhada a uma escola. Quando soube, sua mãe desmaiou. Já Ricardo não contratou nenhum advogado nem foi visitá-la. " Ele apenas me usou porque eu era menor de idade. Quando fui presa, ele me abandonou. Fiquei sabendo até que já estava se engraçando com outras meninas ", diz.
Desiludida,Paula ficou revoltada com o mundo. Nesse processo,engravidou de um rapaz de 27 anos e se envolveu em um assalto. Pega pela polícia,foi condenada a passar três anos na Fundação Casa. Hoje,aos 17, se diz totalmente arrependida do que fez. " Minha mãe nunca me deixou faltar nada. Com muito esforço, comprava as coisas pra mim e meus irmãos. Meu padrasto sempre foi meu conselheiro. Ele é como um segundo pai." Na fundação Casa, ela está completando o Ensino Fundamental, faz curso de panificação,cabeleireiro,informática e artes e voltou a jogar futebol. Mas grande parte dos seus amigos se afastou. " Perdi a confiança e a amizade deles ",lamenta. Paula tem planos para quando ganhar liberdade. Quer trabalhar honestamente e cuidar de seu filho, que está com sua mãe. Enquanto isso,ela repensa a sua vida: " Eu não era feliz no crime, tudo foi uma grande ilusão. Hoje penso diferente,sou uma nova pessoa. Aprendi com tudo o que passei, por isso sou feliz!"

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